MIDNIGHT MOVIES

O fenômeno dos “filmes malditos da meia-noite” teve seu início ainda nos primórdios da televisão americana, na década de 50, quando insones dispostos a qualquer coisa por uma diversão barata atravessavam a madrugada vendo filmes de baixíssimo orçamento, geralmente apresentados em estações locais, que colocavam as figuras mais excêntricas e caricatas como “anfitriões” do programa. Vários anos depois, a experiência solitária de ver filmes ruins na TV se tornaria um autêntico movimento subcultural, quando alguns cinemas passaram a programar, em sessões da meia-noite, filmes viscerais, controversos ou puramente estranhos. O fenômeno explodiria definitivamente em 1970, quando o cinema Elgin, de Nova Iorque, levou às telas o inclassificável El Topo, de Alejandro Jodorowsky, que permaneceu seis meses em cartaz, com sessões lotadas diariamente. Filmes contemporâneos, com Na Mira da Morte, de Peter Bogdanovich, e Balada Sangrenta (1972), de Perry Henzell, dividiam as sessões com semi-clássicos esquecidos, como Monstros, de Tod Browning, e Reefer Madness (1936), de Louis J. Gasnier. Este último, um bizarríssimo filme sobre os malefícios da maconha, levava a platéia ao delírio, igualmente mergulhada numa densa  nuvem de marijuana. Outras salas passaram a programar filmes como A Noite dos Mortos Vivos, Pink Flamingos, Rocky Horror Picture Show e Eraserhead, obras que iniciaram suas carreiras nos anos 70 como objeto de culto no circuito restrito dos midnight-movies e hoje são considerados peças refereciais tanto do cinema independente quanto dos filmes de autor, mudando gradativamente a maneira de se observar e entender o cinema contemporâneo, a ponto de influenciar profundamente realizadores das novas gerações.

Há uma diversidade de obras culturais que não consegue obter espaço e exposição no sistema cultural. O próprio cinema detém milhares de filmes, de vários gêneros os quais raramente chegam às salas comerciais, e, quando muito, perambulam pelos circuitos alternativos ou vão direto para o vídeo. Com a retomada dos cineclubes em todo o País, abre-se um novo espaço para as produções rejeitadas pelo circuito comercial. Reafirme-se: rejeitadas porque o cinema comercial precisa intrinsecamente de produções de grande poder de atração do público para sobreviver. Resta aos circuitos de arte e aos cineclubes, como redutos da cultura, abrigar os premiados, polêmicos e rejeitados pelos grandes cinemas.
Criado com a intenção de apresentar ao público local filmes controvertidos, nunca lançados nos cinemas brasileiros ou há muito tempo fora de circulação. O projeto ganha importância por dar espaço à produções e cineastas desconhecidos do grande público e admirados por uma leva de cinéfilos.